Ano passado estive em Vitória-Es e, entre outras descobertas, conheci um pouco do Congo de Vitória, Vila Velha, Linhares. Também chamou-me a atenção a história da Madalena, sim...aquela cantada pelo Martinho da Vila. Antes mesmo de ir a Vitória perguntei ao Prof. Benjamin (folclorista): "Prof., o que de interessante eu poderei encontrar no Espírito Santo?" Ele prontamente respondeu: "Ah, certamente, vão lhe contar sobre a história da música 'Madalena". Dito e feito! Aproveito o texto do Eliomar Mazoco (abaixo) para compartilhar com vcs essa história.
Congo de Linhares
A Madalena é capixaba
08/08/2010 - 22h05 ( - ) para ler direto no site, clique aqui.
Eliomar Mazoco
As Madalenas são uma só. E vêm todas da tradição católica de Maria a de Magdala, a Madalena, meretriz para uns, companheira e mulher de Jesus, para outros, que participou e assistiu ao lado de Maria, à sua crucificação. A partir daí as madalenas se multiplicaram e levadas pelo catolicismo popular, a devoção à santa se espalhou, nomeando mundo afora, filhas, fazendas, engenhos, ruas, cidades, praças, feiras, grupos, festas e comunidades. E de uma maneira ou outra, mas não de forma constante, aparece em versos de manifestações da cultura popular.
É o caso da toada da Madalena, onde todo o enredo, a história, a música, a tonalidade e a memória, são referências e patrimônios da imaterialidade capixaba expressos nas bandas de congo do Espírito Santo. Seja da Serra onde é mais popular, seja de Vitória onde foi gravada a primeira vez em 1980 pela extinta Banda de Congo Panelas de Barro, seja de Vila Velha como ficou conhecida ao ser cantada em samba, o que é inquestionável é que se trata de um patrimônio da cultura popular capixaba, e portanto hoje um símbolo fundamental em nossa identidade cultural.
No entanto, qualquer pesquisa com o nome Madalena na internet remete a imagens e figura do Rio de Janeiro, do samba e de Martinho da Vila. E piora quando procuramos entre as inúmeras regravações da Madalena, quase a totalidade delas mundo afora, não só no Brasil, se referem à "Madalena de Martinho da Vila do Rio de Janeiro", sem nenhuma citação e referência ao Espírito Santo, à Serra, Vila Velha (Barra do Jucu) ou Vitória e às bandas de congos.
Há tempos atrás era radicalismo, atraso provinciano defender nossas raízes contra os que nos vinham apenas explorar o patrimônio da cultura popular. Agora, com a experiência da internet, fica claro o enorme espaço de difusão, de projeção nacional e internacional, de oportunidades em eventos culturais, turísticos e econômicos, qualificado, formador de imagem, atrativo de turistas e recursos, que o Espírito Santo perde para o Rio de Janeiro, o congo para o samba, e os músicos capixabas, inclusive os sambistas, para Martinho da Vila.
Ora, isto se configura uma expropriação, uma apropriação indébita de nossos valores culturais e referências para uma distorção de nossa imagem. Aliás, no caso uma negação de nossa imagem e identidade. E isto muitas vezes com dinheiro público pagando os shows, título na Assembléia Legislativa e rapapés cafonas e subservientes.
Contudo, este comportamento de colonizado cultural não encobre mais o enorme prejuízo que as bandas de congo, o patrimônio imaterial capixaba, e, sobretudo o Estado do Espírito Santo sofrem, e que a defesa de nosso patrimônio cultural não interessa apenas às bandas de congos, mas à cidadania e identidade capixaba como um todo.
Eliomar Mazoco é presidente da Comissão Espírito-santense de Folclore.
Madalena, Madalena, você é meu bem querer!
ResponderExcluirParabéns pela postagem.
É bom a gente ter acesso a esclarecimentos como esses.
E tantas outras músicas de sucesso por aí, e que as pessoas não conhecem a origem. O verso "Tu não faz como um passarinho que fez um ninho e avoou...", por exemplo, conhecida do grande público através do grupo Timbalada,e como música incidental com Marisa Monte, na origem, é um samba do recôncavo baiano.
ResponderExcluirObrigada, Dantas, e um grande abraço!