Humberto, meu distinto
Na mesma condição está o quase sesquicentenário Maracatu Leão Coroado, primeira agremiação carnavalesca a ter registro como Patrimônio Vivo do Estado e dimensão mundial.
Na mesma condição está o Maracatu Sol Nascente, que incorpora o Bacnaré, seguramente um dos grupos brasileiros mais apresentados no Exterior.
O primeiro, sumariamente excluído do carnaval do Recife e o segundo "penalizado" com a redução dos seus cachês à metade. Ambos, pela simples razão de haverem decidido não concorrer ao concurso promovido pela Prefeitura do Recife.
Não faz muito tempo, o ex-secretário Peixe puniu o centenário Caboclinhos Canindés do Recife - também registro do patrimônio vivo - e o escarneceu de público, humilhando os seus dirigentes na cerimônia de encerramento do carnaval, pelo fato da quebra de um ônibus haver atrasado a chegada da agremiação ao evento. Esta agremiação também está sob punição por se haver recusado a participar do concurso da prefeitura.
Este pessoal do naipe dos dirigentes do Guerreiros do Passo e de Guitinho de Xambá merecem o maior respeito quando protestam. Mas aposto o resto da minha vida como não terão da imprensa o direito de serem citados em uma única linha de jornal. A razão? Ora, os chamados "cadernos culturais" dos nossos matutinos são patrocinados, ou seja, são matéria paga que os jornais não se arriscam a perder e que perderão se repercutirem as vozes desses "contestatários".
E Guitinho e os dirigentes dos Guerreiros que só puderam dizer, até agora, parte da verdade, já arrepiam a consciência das pessoas de bem. A outra parte - aquela que precisa ser apurada como crime - está a merecer a atenção do Ministério Público, cujo procurador geral, lembremo-nos, foi nomeado pelo chefe do Poder Executivo e é, ele próprio, um político, além de um possível e até provável candidato à recondução. Tenho a impressão de que, nem por milagre daí sairá uma ordem para apurar o que deve ser apurado.
Que bom seria que a ação dessa autoridade viesse a atender aos reclamos desses bravos!
Em todo caso, lembremos que pessoas da categoria dos "peixe" logo desaparecem, porque a dinâmica da cultura os atropela. Eles têm vida curta, ao passo que as troças e as danças do nosso carnaval, os nossos maracatus, a música pernambucana e, sobretudo, a intensa cor religiosa da nossa cultura popular nunca são atropelados por qualquer dinâmica nem por uma dinâmica qualquer, mas são capazes - apesar dos desmandos que lhe são impostos - de se apresentarem sempre compostos para tratar melhor, sempre e sempre também, as suas artes, as artes do povo.
Lembremo-nos que um político da cidade de Igarassu se recusou a ajudar aqueles a quem chamou de "negros bêbados safados".
Ele se negava a colaborar com o Maracatu Estrela Brilhante.
Mas a saudosa Dona Mariú não absorveu a afronta e com toda a dignidade que a sua personalidade exalava, conduziu o seu maracatu, o maracatu dos seus antepassados e de seus filhos, netos, bisnetos e tetranetos a uma grandeza sem limites. E sob a batuta serena e sofrida de Dona Olga, ficou demonstrado que o Estrela era, como é, uma grande instituição. Tanto que o Estado de Pernambuco, não deixou de lhe reconhecer o registro como Patrimônio Vivo.
As gerações de d. Mariú e de d.Olga agora estão sucedidas pela geração de Gilmar, de Betinho, de seus irmãos, filhos e netos, todos eles homens e mulheres de bem, orgulho de Igarassu.
Ninguém tenha qualquer dúvida: nunca haverá político que se sobreponha a esse povo. Povo dessa estirpe tem ao seu lado a força da cultura popular, uma força que eterniza os seus esforços, as suas manifestações.
Mas é preciso que outros venham unir as suas vozes às de Afonso, Ubiracy, Guitinho, Juracy e Eduardo, à dignidade de Dona Olga de Santana Batista. Gostaria de abraçar, a todos, com o meu maior respeito e com todo carinho.
José Fernando Souza
(membro da Comissão Pernambucana da Folclore)
Na mesma condição está o quase sesquicentenário Maracatu Leão Coroado, primeira agremiação carnavalesca a ter registro como Patrimônio Vivo do Estado e dimensão mundial.
Na mesma condição está o Maracatu Sol Nascente, que incorpora o Bacnaré, seguramente um dos grupos brasileiros mais apresentados no Exterior.
O primeiro, sumariamente excluído do carnaval do Recife e o segundo "penalizado" com a redução dos seus cachês à metade. Ambos, pela simples razão de haverem decidido não concorrer ao concurso promovido pela Prefeitura do Recife.
Não faz muito tempo, o ex-secretário Peixe puniu o centenário Caboclinhos Canindés do Recife - também registro do patrimônio vivo - e o escarneceu de público, humilhando os seus dirigentes na cerimônia de encerramento do carnaval, pelo fato da quebra de um ônibus haver atrasado a chegada da agremiação ao evento. Esta agremiação também está sob punição por se haver recusado a participar do concurso da prefeitura.
Este pessoal do naipe dos dirigentes do Guerreiros do Passo e de Guitinho de Xambá merecem o maior respeito quando protestam. Mas aposto o resto da minha vida como não terão da imprensa o direito de serem citados em uma única linha de jornal. A razão? Ora, os chamados "cadernos culturais" dos nossos matutinos são patrocinados, ou seja, são matéria paga que os jornais não se arriscam a perder e que perderão se repercutirem as vozes desses "contestatários".
E Guitinho e os dirigentes dos Guerreiros que só puderam dizer, até agora, parte da verdade, já arrepiam a consciência das pessoas de bem. A outra parte - aquela que precisa ser apurada como crime - está a merecer a atenção do Ministério Público, cujo procurador geral, lembremo-nos, foi nomeado pelo chefe do Poder Executivo e é, ele próprio, um político, além de um possível e até provável candidato à recondução. Tenho a impressão de que, nem por milagre daí sairá uma ordem para apurar o que deve ser apurado.
Que bom seria que a ação dessa autoridade viesse a atender aos reclamos desses bravos!
Em todo caso, lembremos que pessoas da categoria dos "peixe" logo desaparecem, porque a dinâmica da cultura os atropela. Eles têm vida curta, ao passo que as troças e as danças do nosso carnaval, os nossos maracatus, a música pernambucana e, sobretudo, a intensa cor religiosa da nossa cultura popular nunca são atropelados por qualquer dinâmica nem por uma dinâmica qualquer, mas são capazes - apesar dos desmandos que lhe são impostos - de se apresentarem sempre compostos para tratar melhor, sempre e sempre também, as suas artes, as artes do povo.
Lembremo-nos que um político da cidade de Igarassu se recusou a ajudar aqueles a quem chamou de "negros bêbados safados".
Ele se negava a colaborar com o Maracatu Estrela Brilhante.
Mas a saudosa Dona Mariú não absorveu a afronta e com toda a dignidade que a sua personalidade exalava, conduziu o seu maracatu, o maracatu dos seus antepassados e de seus filhos, netos, bisnetos e tetranetos a uma grandeza sem limites. E sob a batuta serena e sofrida de Dona Olga, ficou demonstrado que o Estrela era, como é, uma grande instituição. Tanto que o Estado de Pernambuco, não deixou de lhe reconhecer o registro como Patrimônio Vivo.
As gerações de d. Mariú e de d.Olga agora estão sucedidas pela geração de Gilmar, de Betinho, de seus irmãos, filhos e netos, todos eles homens e mulheres de bem, orgulho de Igarassu.
Ninguém tenha qualquer dúvida: nunca haverá político que se sobreponha a esse povo. Povo dessa estirpe tem ao seu lado a força da cultura popular, uma força que eterniza os seus esforços, as suas manifestações.
Mas é preciso que outros venham unir as suas vozes às de Afonso, Ubiracy, Guitinho, Juracy e Eduardo, à dignidade de Dona Olga de Santana Batista. Gostaria de abraçar, a todos, com o meu maior respeito e com todo carinho.
José Fernando Souza
(membro da Comissão Pernambucana da Folclore)
Meu caro josé Fernando,é com muita satisfação e orgulho que concordo com tudo o que você manifesta no seu texto.receba um grande abraço do amigo ,Renato Phaelante,pesquisador de MPB.
ResponderExcluirFico muito honrada pelo o seu comentário, Renato. Estou feliz pelo Ritmado ter servido de espaço para expressão desse pensamento.
ResponderExcluirEsteja a vontade para compartilhar experiências aqui conosco.
Abraço.