quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Rádio Frei Caneca/ Comunicação como Direito Humano

Hoje chegou à minha caixa de e-mail o texto que segue abaixo e cuja temática parece nunca ser suficientemente debatida: comunicação como direito humano.
Foi uma grande coincidência, pois recebera o e-mail no momento em que estava justamente escrevendo artigo científico (essa vida acadêmica, rs, uff..) e tocara justamente nesse ponto da importância da livre expressão comunicativa por diversos grupos da sociedade.
A outra coincidência é que se o caro leitor/internauta olhar direitinho, tem um post abaixo sobre a reunião da Rádio Frei Caneca, evento que rolou ontem aqui no Recife.

Saí da reunião com a cabeça borbulhando de ideias e...de dúvidas também: como fica o controle social em relação a essa Rádio que está por vir? Quem serão os profissionais que estarão envolvidos nos trabalhos da emissora? É preciso ter clara a noção de que a Frei Caneca será uma rádio pública e NÃO da prefeitura, precisando ter autonomia em relação às gestões que irão se suceder. Ao mesmo tempo que questões estruturais (antena, transmissor, etc e tal) estão sendo operacionalizadas, questões da "alma" e essência da emissora também precisam estar sendo debatidas, ou daqui a 5 meses será posta "qualquer coisa" no ar??? Outra coisinha que precisa ser mais debatida em relação à Frei Caneca: que a rádio vai tocar a música de Pernambuco, óóótimo, mas não se encerra por aí. De que forma vai tocar? Como? Há de se considerar que em termos de produção cultural Pernambuco tem uma ampla cadeia profissonal; mas, por outro lado, a profissionalização/ capacitação de radialistas aqui no estado necessita de uma atenção especial e as discussões sobre a Frei Caneca precisam sim contar com o acompanhamento da academia.
Bom, por ora é isso, estamos acompanhando as discussões sobre a implantação da Rádio Frei Caneca e, em breve, mas "coisinhas" serão postadas por aqui.

Abaixo o referido texto sobre Comunicação como direito humano, enviado pelos colegas da Abraço-PB.


Comunicação como direito humano

03/08/2011 - 00:39

Cristian Góes

Existe um enorme fosso entre a realidade das pessoas, especialmente as mais pobres ou empobrecidas e seus direitos mais elementares, como educação pública, gratuita e de qualidade, saúde nessa mesma condição, água, energia, segurança, trabalho, habitação, transporte, entre tantos outros. Esse abismo social tem como base a falta do simples conhecimento de que todo ser humano é um ser de direitos, isto é, ele só se torna humano e tem vida digna com o pleno acesso e exercício desses direitos fundamentais.
Ocorre que há um direito que o cidadão desconhece e, como ele é fundamental para a exigência e o exercício dos demais direitos, talvez esse fosso entre o ser humano e o conhecer e exercer seus direitos básicos pareça intransponível. Refiro-me ao direito elementar e basilar: o de comunicação. Entende-se como comunicação o direito de não apenas receber informações, tornando-se um receptor passivo, mas principalmente refletir sobre elas e fundamentalmente reagir, produzir, emitir, falar. Comunicação é antes de tudo diálogo, frase que faz lembrança ao grande mestre Paulo Freire. Comunicação deriva do verbo latino comunicare, isto é, tornar comum, participar ao outro, falar.
Assim, diante dos meios de comunicação de massa, como rádios, tvs e jornais, nós nos comunicamos, isto é, respondemos as suas mensagens, mas nem sempre de forma dialógica e nem reflexiva, muito pelo contrário. Respondemos sem se aperceber à medida, por exemplo, que consumimos avidamente produtos e serviços. Pior mesmo é que não são apenas produtos e serviços, engolimos muito mais ideias e que vão formar “nossa opinião”, que de nossa, pouco há. As mensagens midiáticas são ingeridas como verdades e elas determinam nossa atuação ou omissão social, neste último caso, omissão diante de outros direitos elementares para uma vida digna.
O problema é que a quase totalidade da mídia comercial no Brasil é dominada por 11 famílias, que homogeneíza o pensamento social sobre agendas e temas da sociedade, tudo para atender interesses dos grandes grupos econômicos e garantir a existência do enorme fosso social entre o ser humano e seus direitos, isto é, mantendo a situação como está. Se o cidadão não tem acesso às informações plurais, várias versões sobre os fatos do cotidiano, certamente não terá condições de refletir sobre eles, e é obrigado a engolir uma versão única que será reproduzida passivamente. Em outras palavras, não há diálogo, participação, isto é, não há comunicação.
Assim, fundamental que o cidadão compreenda que ele tem o direito à comunicação e que o exercício desse direito é vital para vida plena em sociedade. Mais importante ainda é que compreenda que comunicar não significa receber passivamente informações, especialmente as midiáticas, mas o direito de refletir e desconfiar delas, e principalmente de produzir, falar e ser visto, ou seja, cada um de nós podemos e devemos ser provedores de informações, especialmente àquelas que remem contra a ditadura do pensamento único, imposto subliminarmente pela grande maioria da mídia comercial. Talvez a democratização dos meios de comunicação no Brasil comece pela compreensão de que todo cidadão têm e deve exercer o livre direito à comunicação, o que vai tirá-lo da invisibilidade e não permitir a invenção de uma realidade que não é sua.

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Movimento NOVOS RUMOS / ABRAÇO-PB

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